tag:blogger.com,1999:blog-81750672250513304632024-03-05T04:48:53.058-03:00Ceyla, deliciosa e gostosa, tão submissa e meigaCeylahttp://www.blogger.com/profile/03590792047181335434noreply@blogger.comBlogger1125truetag:blogger.com,1999:blog-8175067225051330463.post-83686756890894037122016-06-14T18:16:00.000-03:002016-06-14T18:16:09.265-03:00<b><span class="ya-q-full-text Ol-n" id="yui_3_17_2_2_1465938854503_748" tabindex="-1">Mulher da Vida <br />
Cora Coralina <br />
<br />
Mulher da Vida, minha Irmã. <br />
<br />
De todos os tempos. <br />
De todos os povos. <br />
De todas as latitudes. <br />
Ela vem do fundo imemorial das idades e <br />
carrega a carga pesada dos mais <br />
torpes sinônimos, <br />
apelidos e apodos: <br />
Mulher da zona, <br />
Mulher da rua, <br />
Mulher perdida, <br />
Mulher à-toa. <br />
<br />
Mulher da Vida, minha irmã. <br />
<br />
Pisadas, espezinhadas, ameaçadas. <br />
Desprotegidas e exploradas. <br />
Ignoradas da Lei, da Justiça e do Direito. <br />
Necessárias fisiologicamente. <br />
Indestrutíveis. <br />
Sobreviventes. <br />
Possuídas e infamadas sempre por <br />
aqueles que um dia as lançaram na vida. <br />
Marcadas. Contaminadas, <br />
Escorchadas. Discriminadas. <br />
<br />
Nenhum direito lhes assiste. <br />
Nenhum estatuto ou norma as protege. <br />
Sobrevivem como erva cativa dos caminhos, <br />
pisadas, maltratadas e renascidas. <br />
<br />
Flor sombria, sementeira espinhal <br />
gerada nos viveiros da miséria, da <br />
pobreza e do abandono, <br />
enraizada em todos os quadrantes da Terra. <br />
<br />
Um dia, numa cidade longínqua, essa <br />
mulher corria perseguida pelos homens que <br />
a tinham maculado. Aflita, ouvindo o <br />
tropel dos perseguidores e o sibilo das pedras, <br />
ela encontrou-se com a Justiça. <br />
<br />
A Justiça estendeu sua destra poderosa e <br />
lançou o repto milenar: <br />
“Aquele que estiver sem pecado <br />
atire a primeira pedra”. <br />
<br />
As pedras caíram <br />
e os cobradores deram s costas. <br />
<br />
O Justo falou então a palavra de eqüidade: <br />
“Ninguém te condenou, mulher... <br />
nem eu te condeno”. <br />
<br />
A Justiça pesou a falta pelo peso <br />
do sacrifício e este excedeu àquela. <br />
Vilipendiada, esmagada. <br />
Possuída e enxovalhada, <br />
ela é a muralha que há milênios detém <br />
as urgências brutais do homem para que <br />
na sociedade possam coexistir a inocência, <br />
a castidade e a virtude. <br />
<br />
Na fragilidade de sua carne maculada <br />
esbarra a exigência impiedosa do macho. <br />
<br />
Sem cobertura de leis <br />
e sem proteção legal, <br />
ela atravessa a vida ultrajada <br />
e imprescindível, pisoteada, explorada, <br />
nem a sociedade a dispensa <br />
nem lhe reconhece direitos <br />
nem lhe dá proteção. <br />
E quem já alcançou o ideal dessa mulher, <br />
que um homem a tome pela mão, <br />
a levante, e diga: minha companheira. <br />
<br />
Mulher da Vida, minha irmã. <br />
<br />
No fim dos tempos. <br />
No dia da Grande Justiça <br />
do Grande Juiz. <br />
Serás remida e lavada <br />
de toda condenação. <br />
<br />
E o juiz da Grande Justiça <br />
a vestirá de branco em <br />
novo batismo de purificação. <br />
Limpará as máculas de sua vida <br />
humilhada e sacrificada <br />
para que a Família Humana <br />
possa subsistir sempre, <br />
estrutura sólida e indestrurível <br />
da sociedade, <br />
de todos os povos, <br />
de todos os tempos. <br />
<br />
Mulher da Vida, minha irmã. <br />
<br />
<br />
Declarou-lhe Jesus: “Em verdade vos digo que publicanos e meretrizes vos precedem no Reino de Deus”. <br />
Evangelho de São Mateus 21, ver.31. <br />
<br />
Poesia dedicada, por Coralina, ao Ano Internacional <br />
da Mulher em 1975. </span></b><b><br /></b>Ceylahttp://www.blogger.com/profile/03590792047181335434noreply@blogger.com6